Júpiter, o gigante gasoso, desde Floripa
No post de hoje veremos as tentativas grosseiras de capturar imagens de Júpiter desde o quintal de uma casa em Florianópolis.
Mas antes de mais nada, uma introdução do que é Júpiter:
Júpiter é o maior planeta do Sistema Solar, tanto em diâmetro quanto em massa e é o quinto mais próximo do Sol. Possui menos de um milésimo da massa solar, contudo tem 2,5 vezes a massa de todos os outros planetas em conjunto. É um planeta gasoso junto com Saturno, Urano e Neptuno. (…), isto é, não é composto primariamente de matéria sólida. (ref)
Júpiter é tão grande que seu diâmetro é 11,2 vezes maior que o da Terra. Ou seja, poderíamos colocar 11,2 Terras lado a lado para preencher a cintura de Júpiter. Outra forma de compreender seu tamanho é considerar que podemos colocar mais de mil Terras (1321,3 Terras, para ser exato) dentro de Júpiter.
Apesar da grandeza, Júpiter está bem longe da Terra. No momento de maior proximidade, está a 628 milhões de quilômetros de nós, e no de maior afastamento está a 928 milhões de quilômetros. Isso corresponde, respectivamente, à 4,2 e 6,2 vezes a distância da Terra ao Sol.
O planeta gigante, normalmente, é o quarto objeto mais brilhante no céu, perdendo apenas para o Sol, a Lua e a vizinha Vênus. Inclusive, às vezes pode ser visto durante o dia!
Aqui está uma foto de Júpiter às 5:50 da manhã de 27/02/2016 (usando uma câmera Canon EOS Rebel T3):
Para ilustrar a diferença de brilho entre Vênus e Júpiter (algo que não é estático), coloco aqui uma foto de ambos que foi batida com celular às 18 horas de 29 de junho de 2015. Os dois planetas estão no centro da foto, com Vênus no centro e logo acima, um pouco à direita, e menos brilhante, Júpiter.
Nesse momento, Júpiter e Vênus estavam, como vistas da Terra, “próximas” … mas na verdade estavam bem distantes uma da outra. Isso ocorre por causa do alinhamento dos 2 planetas como visto da Terra. Veja a posição dos 3 planetas no dia da foto:
Após capturar algumas fotos de Júpiter com máquina fotográfica sem zoom, comecei a tentar capturar fotos usando uma câmera DSLR (Canon EOS Rebel T3) “plugada” num telescópio Skywatcher Maksutov 90mm. O “zoom” da combinação de ambas é grosseiramente algo como 47x.
O resultado é incrível :D. Júpiter não é mais um pontinho brilhante no céu. Podemos ver ele como um disco bem como suas quatro maiores luas.
Segue uma foto de 17/02/2016:
Segue a mesma foto recortada e com legenda:
Júpiter possui 67 luas conhecidas. Mas com telescópios pequenos podemos ver apenas as 4 maiores. São as chamadas luas galileanas porque quem as descobriu foi Galileu em 1609/10. A descoberta delas orbitando Júpiter foi um duro golpe ao geocentrismo porque ficou comprovado que nem tudo girava ao redor da Terra.
Na foto vemos as luas Io (com mais de 400 vulcões, único lugar no sistema solar com vulcanismo ativo conhecido além da Terra), Europa (que possui um oceano logo abaixo da crosta de gelo e pode conter vida) e Calisto. A outra lua galileana, Ganímedes (maior lua do sistema solar, maior que Mercúrio), não estava visível porque estava passando bem na frente de Júpiter (fenômeno conhecido como “trânsito”, no caso, trânsito de Ganímedes).
Bem, se realmente são luas e não estrelas … elas orbitam ao redor de Júpiter, correto? Correto.
Então, se esperarmos alguns dias … elas devem estar em outra posição, correto? Correto.
Aqui vem outra foto de Júpiter, com o mesmo equipamento, 10 dias depois da primeira:
Segue a mesma foto recortada e com legenda:
Após 10 dias, (17/02 -> 27/02), podemos confirmar o baile das luas ao redor de Júpiter em 2 atos :D
As luas estão em posições diferentes em suas órbitas ao redor do gigantesco Júpiter.
E se no dia 17 a lua Ganímedes não saiu na foto porque estava bem na frente de Júpiter, agora, dia 27, é a vez da lua Io não estar visível porque estava detrás de Júpiter (fenômeno conhecido como “ocultação”, no caso, ocultação de Io).
Isso tudo é muito interessante, mas como qualquer pessoa, eu queria ver Júpiter com mais detalhes :D
Foi aí que entrou na parada a câmera planetária ZW Optical ASI120MC. O pequeno telescópio Skywatcher Maksutov 90mm possui uma ampliação útil de aproximadamente 200x. A combinação câmera ASI120MC + Maksutov 90mm dá uma aproximação um pouco acima desse valor: ~208x.
O método para gerar a imagem é diferente de um simples click. Ao invés de 1 simples foto (frame), geramos uma imagem a partir da combinação de centenas de frames. E por meio de programas de computador, os frames são combinados e tratados para melhorar a nitidez e gerar uma única imagem com bem mais qualidade. (Foram usados os softwares FireCapture, SharpCap, AutoStakkert! 2 e Registax 6.)
Sem mais conversas, essa é a foto de Júpiter feita em 15/04/2016 (+- entre 00:00 e 01:30AM):
Legal né? Finalmente os detalhes da “superfície” do planeta se revelam para nós :D.
Tenham em mente que nessa foto, Júpiter esta à “apenas” 694 milhões de quilômetros de nós.
Na foto é possível ver Júpiter e 2 luas galileanas (Ganímedes e Europa) como 2 pontinhos, um em cada lado da cintura do planeta.
Eu falei que o planeta é gasoso, né? Pois bem, essas manchas que percorrem Júpiter de lado a lado com padrões claros e escuros são nuvens que cobrem esse gigantesco planeta gasoso.
Então, na foto vemos apenas as nuvens no topo do planeta. Essas são feitas de materiais residuais como gelo de amônia e gelo de água. Mas a maior parte do planeta é composta de hidrogênio e hélio (como o Sol).
Essas nuvens formam bandas claras e escuras que se alternam. As claras são chamadas de “faixas” e as escuras de “cinturões”.
O dia em Júpiter dura apenas 9 horas e 55 minutos. O planeta gira tão rápido que a rotação incha o equador e achata os polos. Na foto, podemos ver que o planeta não é bem esférico, mas possui uma forma oblata.
Dado que Júpiter gira tão rápido, podemos perceber com o intervalo de horas a rotação do planeta ao acompanharmos alguns elementos do planeta se “movendo” no disco do planeta.
E nada é mais visível que a “Grande Mancha Vermelha”. Essa mancha é uma enorme tempestade que dura pelo menos desde o século XIX e possui um diâmetro que abarca 2 ou 3 planetas Terra!
A Grande Mancha está situada no cinturão equatorial sul, logo abaixo do equador.
Pois bem, meu novo objetivo era registrar uma imagem da “Grande Mancha Vermelha”. E isso ocorreu em 12 de junho:
Perceba a Grande Mancha Vermelha no centro do planeta, um pouco acima da linha do Equador (o Sul é para cima). Na foto também estão visíveis (muito ruim de ver) as luas Io (no lado direito), Europa (no lado esquerdo) e Ganímedes (mais à esquerda de Europa). Nessa imagem, Júpiter estava a 820 milhões de quilômetros (ou seja, afastou-se bastante desde a foto de 15 de abril).
Bom, era isso. Se ficou interessado … a sonda Juno chegará em Júpiter em 04/07/2016 após uma viagem de quase 5 anos (foi lançada em agosto de 2011). Entre um de seus objetivos está descobrir se Júpiter possui um núcleo sólido. A sonda irá orbitar o planeta por 20 meses e certamente teremos fotos bem melhores que as minhas :D Fique antenado nas fotos incríveis que surgirão a partir do próximos mês na internet.
Update: Em 09/07/2019 consegui registros melhores. Júpiter distava 657 milhões de quilômetros da Terra.
Na animação abaixo estão contidas 6 registros que abarcam um período de 11 minutos. Mesmo com a curta duração já é possível registrar os efeitos da rotação de Júpiter.